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Sociabilidades das negras vendedoras de comida no Rio de Janeiro do séc. XIX

Texto de:


Talita Almeida do Rosário

Dedico este breve texto à minha professora Sidiana Macêdo, pesquisadora da História da alimentação e mulher incrível.
Feliz dia do Professor!!

INTRODUÇÃO

Adriaen van Ostade, A vendedora de peixe, 1672, óleo sobre painel, 36,5 x 39,5 cm, Rijksmuseum Amsterdam
A figura da vendedora de alimentos foi uma temática recorrente em muitas obras ao longo do tempo. E a pintura acima revela no século XVII, sob interesse do olhar do artista holandês Adriaen van Ostade, a imagem da peixeira, mulher pobre no cotidiano do mercado urbano europeu. O quadro, além de ser preenchido por sujeitos que compunham o mercado no período, tem a presença central da peixeira que atrai o foco pela sua forma carismática. Sobre a tábua está exposto a sua venda, tem-se de um lado pequenos peixes com alguns crustáceos e ao outro peixes maiores. Entre eles, está ela trabalhando um peixe a mão e faca que nós olha esboçando um sorriso, como quem estivesse a nos oferecer seu produto.

As impressões do pintor de a peixeira olhar mantendo um contato demonstram um tipo de comportamento que expõe a relação do momento da venda: a de se estabelecer uma sociabilidade. E se trata de uma prática existente nos dias atuais, mas que no passado esteve também em diferentes períodos do Brasil. Como ressalta-se aqui, o Rio de Janeiro da primeira metade do séc. XIX, pois nele o comércio de venda de comida foi em grande parte assistido pela participação da população negra escrava, liberta, livre e feminina. Vejamos!

As quitandeiras, classe de comerciantes de alimentos, vendiam diferentes tipos de comida como peixes, carnes, galinhas vivas, frutas, verduras, salgados, doces, sopas, mingaus, cozidos e bebidas em barracas ou ambulantes anunciando os produtos em tabuleiros ou com gamelas sobre a cabeça. Esse foi um trabalho realizado predominantemente por mulheres negras escravas, livres e libertas, embora tenham atuado também as mestiças e as brancas livres e pobres. A essa forte presença se deu pelos quase quatro séculos de tráfico transatlântico com a vinda de mais de 11 milhões[i] de africanos homens, mulheres e crianças para as Américas entre o século dezesseis e meados do dezenove e a maioria dos cativos tiveram como destino os portos brasileiros, contando o desembarque de 4 milhões (ALBURQUERQUE; FRAGA FILHO, 2006, p.39). E a entrada no Brasil de uma grande quantidade de negros foi sentida na cidade do Rio de janeiro quando, segundo Fernando Freitas, em 1830 formavam 50% da população e esse crescimento foi acompanhado com o do ofício das quitandeiras na capital que no séc. XVIII era a atividade de venda com maior expressividade[ii] (FREITAS, 2016, p.192-193). E no séc.XIX continuou a crescer, pois o aumento do controle policial e fiscal da Câmara por motivos de circulação e ocupação delas nas ruas se colocou como indício desde do final do séc.XVIII (Ibid, 2016, p.192-193).

Por isso, as negras não escaparam do registro de muitos artistas nacionais e viajantes que se depararam com as ruas das diferentes regiões do Brasil preenchidas por quitandeiras. Como em Belém do Pará, o viajante Henry Bates viu o “bando de mulheres negras” bem vestidas e enfileiradas pelo caminho que ia dar na entrada da igreja, vendendo em suas barraquinhas bebidas, doces e cigarros aos forasteiros (BATES, 1979, p.45) e, sobretudo no Rio de Janeiro, observada por Jean Debret, a “multidão de vendedoras”, em sua grande parte escravas de “pequenos capitalistas e negros livres” empreendidas na “concorrência momentânea” da venda do aluá nos meses mais quentes do ano (LEITE, Miriam, 1984, p.97). Assim, a presença em massa revelava esse trabalho como lucrativo e em certa medida competitivo no mercado de alimentos (GRAHAM, 2013, p.75). E o comércio de quitanda era lucrativo porque o espaço de rua era próprio da circulação de escravas, o que fazia elas executarem determinadas funções que acabavam sendo úteis para “os escravos e trabalhadores livres”, os quais compunham os seus clientes, “para os seus senhores (que se apropriavam do lucro das vendas e para o Estado que resolvia o problema do abastecimento básico)” (FREITAS, 2016, p.192).

Desta forma, o ofício de quitandeira revelava os lugares sociais femininos no mundo do trabalho que as mulheres negras ocupavam durante o século dezenove. A mulher branca e abastada era colocada no ideal de mulher a ser seguida com uma vida de reclusão e distante do trabalho manual, enquanto as tarefas manuais e os espaços de rua cabiam como provenientes de escravas e de prostitutas (LEITE, Miriam, 1984). Quanto às mulheres pobres ficavam na fronteira desses dois padrões, pois de acordo com Maria Odila Leite (1995), o mito da “dona ausente” eram estereótipos femininos baseados em padrões de vida das mulheres ricas que muitas mulheres brancas empobrecidas tentavam em sua realidade de parcos recursos segui-los, logo ao se esconderem debaixo de baetas negras à luz do dia demarcavam o seu lugar social com uma reclusão que se desfazia pela falta de escravos para realizar tarefas diárias, sobretudo quando escravos eram medidores de hierarquia social.

Diferente da perspectiva que considera o trabalho manual e de rua sendo falta de prestígio social, para as quitandeiras significava a possibilidade de uma vida melhor, pois para as forras e livres era a garantia da subsistência, a obtenção de uma renda familiar diária. Já as escravas de ganho, quer dizer aquelas que trabalhavam na venda ou em outra atividade tendo o lucro obtido destinado a seu senhor ou senhora, tinham a oportunidade estar distante de um convívio diário com eles como foi o caso de Elena, uma ambulante em Salvador, que disse que acordava cedo e se recolhia tarde da noite; assim, apesar da árdua rotina, nas palavras de Richard Graham “pelo menos ela podia decidir aonde ir, com quem se encontrar e até certo ponto, que ritmo impor ao trabalho” (GRAHAM, Richard, 2013, p.75). Negociado e com o consentimento de seus senhores, também podiam acumular pequenas quantias do lucro da venda para os seus gastos diários ou até mesmo o suficiente em alguns casos raros para a compra da liberdade. Contaram os autores Sidiana Macêdo e José Bezerra Neto, o caso de Tia Rufina que enquanto na condição de escrava conseguiu permissão para atuar nesse mercado, pagando parte para seu senhor, o que a possibilitou de comprar a sua alforria e de seu filho e depois de livre continuou com seu comércio, fazendo assim lhe render lucro o suficiente para comprar uma casa “localizada numa das principais ruas da cidade de Belém" (NETO; MACÊDO, 2009, p.7). Para conseguir isso, durante o momento da venda as quitandeiras resignificaram culturas próprias da relação de venda e lançaram de estratégias para garantir uma melhor rentabilidade do comércio de rua que se colocava como lucrativo e competitivo. E a partir de uma investigação e análise em relatos de viajantes e obras artísticas do período foi possível identificar algumas dessas culturas e estratégias de venda.

AS CONVERSAS
As conversas de venda eram práticas tecidas cotidianamente por escravos que realizavam suas principais tarefas nos espaços de rua. O reconhecimento do comércio como um meio de socialização estava ligado às culturas africanas, pois segundo o autor Joseph Ki Zerbo (2002, p.216), as feiras temporárias em aldeias da África ocidental eram um fenômeno econômico, mas também social, uma vez que para muitos eram quase uma desculpa para “se encontrarem, saberem notícias, estabelecerem relações sentimentais" e compartilhar cervejas de milho ou vinho de palma para apagar as “preocupações do labor cotidiano” e as amarguras. Algo semelhante pode ser visto para o comércio alimentar de rua do dezenove feito por negros porque nele as conversas eram resultado do encontro entre conhecidos que trocavam os principais assuntos, entre alguns sob efeito de bebidas. Então, as conversas significavam pequenos refúgios no meio de um dia tão cansativo como era o da quitandeira que suportava o peso no transporte de produtos, o calor, o sol e as chuvas diárias.

Esta obra acima produzida pelo brasileiro Frederico Briggs ilustra exatamente como a venda permitia o encontro entre escravos. Por  exemplo, esta cena entre duas negras escravas que possivelmente "fofocam" sobre algo. Além disso, a partir dessa imagem, podemos identificar a cultura material que compunha os espaços de vender das quitandeiras como cestos, sombrinhas, panos para formar barracas e tamboretes.

Por vezes, o próprio modo como algumas quitandeiras vendiam favorecia o encontro dos escravos. As que preparavam os alimentos no local aonde se estabeleciam transformavam o momento de comer dos seus clientes também no de lazer e de socialização como podemos ver no trecho da autora Cecília Moreira Soares (1996, p.64) que tem como foco as ganhadeiras de Salvador.

"Podiam também improvisar cozinhas, onde colocavam pratos prontos e quentes, preparados à base de farinha de mandioca, feijão, carne seca, aluá, frutas, verduras, alimentos feitos com miúdos de boi, cujo processamento doméstico se baseava em técnicas da culinária indígena e africana. Não era incomum encontrar, junto às barracas de comidas, negros sentados, fazendo suas refeições em meio a muita conversa e goles de cachaça"

As personalidades delas também estavam em questão como coloca Richard Graham (2013, p.75) ao dizer que “as vendedoras de rua eram comerciantes enérgicas” e espertas, pois deviam saber a hora do dia e o lugar para vender e ainda precisavam ter voz forte para anunciar os seus produtos. Por outro lado, a rua era um espaço conflituoso para elas. Segundo Maciel Silva (2014, 148-162), ser risonha, esperta e faladeira eram habilidades procuradas por quem queria uma escrava de ganho, pois eram comportamentos que ajudavam na convivência em locais públicos, entretanto, essa imagem de uma negra doce se confrontava com os assédios dos homens e os “excessos de sociabilidades” que não era bem vistos pelos senhores, por isso acabavam aparecendo nas páginas dos jornais ligadas à fuga, briga, ao barulho e embriaguez.

A GENTILEZA DE DEIXAR "FIADO"
Chamo atenção do leitor aqui para a imagem da quitandeira como provedora familiar, da atividade de vender comida simbolo da obtenção de uma renda para o sustento senhorial ou para si mesma e de seus filhos. Assim um dos aspectos que aparecem nos registros feitos delas que está relacionado à ideia de sustento é como estavam acompanhadas de seus filhos bebês. Tinham um jeito próprio de carregá-los, adaptado para as exigências do seu dia a dia de andança. Carregavam seus filhos envolvidos em uma amarra de tecido junto ao corpo e mais os seus utensílios de venda. A fotografia de Marc Ferrez pode nos ajudar a visualiza-las nisso.

E os filhos por acompanharem participavam do momento de venda das quitandeiras. O relato do viajante Walsh nos mostra isso. Na cidade do Rio de Janeiro, Walsh (WALSH,1828, Vol.1, p.137-138) narra o seu encontro com uma jovem quitandeira que fazia parte de uma classe de pequenos comerciantes, os quais vendiam diferentes artigos “alguns em cestas, outros em tabuleiros ou caixas carregadas na cabeça”. Atendiam em suas casas, mas o maior número deles eram itinerantes. Segundo ele, os vendedores negros eram indivíduos de boa moral, higiênicos e cuidadosos.

"Eram todos muitos limpos e cuidadosos com suas pessoas e tinham decoro e senso de respeitabilidade superior ao dos brancos, da mesma classe e profissão. Todos os seus artigos eram bons, e bem arrumados e vendiam-nos com simplicidade e confiança, não querendo tirar vantagem dos outros, nem suspeitando que podiam ser explorados". (LEITE, Miriam Lifchitz Moreira, 1984,p.98)

Os negros sabiam da concorrência que disputavam não só entre si, mas entre os brancos da mesma classe, por isso tentavam se diferenciar mostrando honestidade, limpeza, organização e principalmente no tratamento dos seus clientes. 

Continuando, Walsh conta o momento que decidiu comprar um doce da “jovem mãe” que carregava seu filho apresentando o gostar muito. Ele comprou alguns confeitos dela, e ficou impressionado com a sua "modéstia e a propriedade de suas maneiras”. Deu um ao bebê que com o “semblante escuro” olhou para a mãe e para ele, aceitando e beijando lhe a mão. Entretanto, no momento de pagar o confete, alegou não conhecer a moeda do País e por esse motivo não tinha troco e ia deixar de comprar-acredito que comprar mais-, contudo a quitandeira o respondeu entregando lhe o doce:

"com toda confiança, repetindo num português quebrado “outro tempo”. Sinto dizer que nunca chegou esse “outro tempo”, pois não pude reconhece-la para quitar minha pequena divida, embora eu tenha propositadamente voltado àquele lugar”. (Ibid. p.98)

Em minha análise, o que Walsh aponta ser um bom atendimento pela jovem negra era uma estratégia de venda para conseguir uma clientela constante e por consequência garantir um bom lucro. Afinal, a jovem vendedora deve ter se interessado em agradá-lo pela possibilidade de sua volta e foi o que ele conta ter acontecido, embora ele não a tenha reconhecido. E a relação da mãe e seu filho, enfatizada pelo afeto da quitandeira por ele, reafirma que talvez a cortesia de deixar “fiado” fosse parte dos jogos de relações justificados pela sua condição. Se ela fosse forra, a existência do filho exigia a responsabilidade e o cuidado de seu sustento, mas se fosse escrava- o que eu julgo ser o mais provável-, então esse se encaixaria no dever de apresentar o que arrecadou ao seu senhor ou senhora e talvez receber o seu.

As sociabilidades travadas durante a venda pelas negras revelam-se complexas quando as enxergamos a partir de um olhar mais refinado sobre as agencias dos escravos no século XIX. Sidney Chalhoub (2011, p.33-113) na introdução de seu livro visões da liberdade: Uma história das últimas décadas da escravidão na corte discute como as ações dos negros frente à possibilidade de serem vendidos durante o tráfico interprovincial os fazia planejar situações para manter seus interesses próprios, pois a venda deles significava uma mudança da realidade que viviam. Assim, o autor trabalha os sentimentos, as normas e valores individuais que orientavam os negros a articularem estratégias de sobrevivência, isso diante de um discurso que considerava o negro como um ser irracional. Logo, pensar essa negra com agrados a seus clientes foi uma forma de se articular para tirar um melhor proveito financeiro do trabalho de quitandeira. Sendo um modo inteligente de a mulher negra escrava, forra e livre garantir a sua sobrevivência em meio aos rigores da sociedade oitocentista.

CONCLUSÃO
Este texto teve por objetivo demonstrar ao leitor como as práticas de sociabilidades que hoje conhecemos na venda como “o fiado”, as conversas, a simpatia e outros -vias para conquistar uma freguesia- foram relações construídas historicamente e que especificamente no século XIX foram usadas como estratégias de sobrevivência durante o regime de escravidão pela negras escravas, livres e libertas envolvidas no comércio de alimentação. 

NOTAS
Talita Almeida do Rosário é graduanda de Licenciatura em História pela Universidade Federal do Pará - Campus de Ananindeua. Este texto foi fruto da Prova avaliativa passada na disciplina sobre Brasil Império e foi reeditado com novas informações e discussões em 21 de Setembro de 2019.

[i] Ressalta-se que os números não são precisos e que não inclui os que morreram no trajeto desde da captura até à travessia (ALBUQUERQUE; FRAGA FILHO, 2006, p.39).
[ii] Apareciam nos 332 registros na cidade, porém foram consideradas apenas as que comerciavam dentro da formalidade (FREITAS, 2016, p.192)
BIBLIOGRAFIA
ALBUQUERQUE, Wlamyra R. de; FRAGA FILHO, Walter. África e africanos no tráfico atlântico.In: Uma história do negro no Brasil. Salvador: Centro de Estudos Afro-Orientais. Brasília: Fundação Cultural Palmares, 2006.

BATES, Henry Walter. Um naturalista no Rio Amazonas. Tradução Mário Guimarães Ferri. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Edusp, 1979 

CHALOUB, Sidney. Visões da liberdade: as últimas décadas da escravidão na corte. São Paulo: Companhia das letras,1990, p.35- 115. 

DIAS, Maria Odila Leite da Silva. Quotidiano e poder em São Paulo no século XIX. 2° ed. São Paulo: Brasiliense, 1995. 

FREITAS, Fernando de Vieira. As negras quitandeiras no Rio de Janeiro do século XIX pré-republicano: modernização urbana e conflito em torno do pequenos comercio de rua. Tempos Históricos v.20, p. 189-217, 1º Semestre de 2016 

GRAHAM, Richard. A rua e a venda.In: Alimentar a cidade : das vendedoras de rua à reforma liberal (Salvador, 1780-1860). Tradução Berilo Vargas.1° ed. São Paulo : Companhia das Letras, 2013. 

KI-ZERBO, Joseph. “Economias e sociedades na África Ocidental” In. História da África Negra I. Lisboa:Europa América, 2002.

LEITE, Miriam Lifchitz Moreira. A condição feminina no Rio de Janeiro, século XIX:antologia de textos de viajantes estrangeiros. São Paulo: Hucitec/Edusp; Brasilia:Pró-memória,1984.  

NETO, José Maia Bezerra; MACÊDO, Sidiana da C. Ferreira. A quitanda de Joana e outras histórias: os escravos e as práticas alimentares na Amazônia (séc. XIX). Histórica – Revista Eletrônica do Arquivo Público do Estado de São Paulo, nº 38, 2009 

SILVA, Maciel Henrique Carneiro da: Pretas de Honra: trabalho, cotidiano e representações de vendeiras e criadas no Recife do século XIX(1840-1870). Dissertação (Mestrado em História) UFPE: Recife, 2004, p. 148-162.

SOARES, Cecília Moreira. As ganhadeiras: mulher e resistência negra em Salvador no século XIX. Afro-Ásia, v. 17, n. 19967, p. 57-71, 1996.

WALSH, Robert. Noticies of Brasil, in 1828 and 1829 by the Rev. R. Walsh LL.D.M.R.I.A. Author of journal from Constantinople London, Frederic Westley and A.H.Daves, v.2, 1830.

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